Publicado em 18 de Abril passado,
podia ler-se no site da TVI a notícia de que em cada hora que passa uma casa é
devolvida ao banco por incapacidade financeira das famílias devedoras.
Esta é a verdadeira imagem do
país e do empobrecimento “galopante” a que se assiste.
Não pretendo prender-me agora
sobre as causas deste fenómeno ou sobre os verdadeiros culpados de uma crise
bem patente e que a (quase) todos toca e de forma bem efectiva. Desabafando,
para que serviria?
Como funcionário público perdi
mais de 20% do meu rendimento do trabalho (única proveniência do meu rendimento
global, diga-se). Os compromissos financeiros, entretanto, assumidos mantêm-se
inalteráveis. A acompanhar a significativa redução da receita, soma-se o
aumento generalizado dos bens e serviços essenciais, o que faz com que a
descida “real” do rendimento disponível seja em muito superior àquele
percentual.
Mas, não pretendo com isto usar
este espaço como “muro das lamentações”. Apesar da minha situação financeira
poder ser considerada grave, ainda e Graças a Deus, não é desesperante como
para as tais famílias (uma por hora!) que se vêem forçadas a entregar a casa
onde habitam e que, certamente, constituiu um pequeno sonho de poderem vir a
poder transmitir por herança aos seus filhos um bem tangível. Eu, com maior ou
menor dificuldade, ainda tenho conseguido manter em dia os pagamentos das
dívidas que contraí. Com redução significativa de custos nas despesas
correntes, afectando áreas importantes como o saber, a cultura e o lazer, sem a
perspectiva de poder passar umas férias condignas mas, apesar de tudo,
conseguindo minimizar os “prejuízos”.
A intenção desta reflexão é, contudo, a de fazer-nos parar um pouco e pensar sobre as palavras da Bíblia:
Se alguém possui bens neste mundo e, vendo o irmão em necessidade lhe
fechar o seu coração, como permanecerá nele o amor de Deus?
Meus filhos, não amemos com palavras e discursos, mas com acções e com
verdade.
(I João 3: 17,18 – A Bíblia para
todos)
Deus é Amor. É o mesmo João que o
afirma um pouco mais adiante na mesma epístola. (4:8)
A nossa responsabilidade é reflectir
o coração de Deus nas nossas vidas.
A palavra “próximo” na Bíblia tem
também um significado literal e geográfico. Não precisamos tornar-nos
missionários em África ou na Ásia para podermos cumprir a nossa missão.
E quantas vezes o nosso discurso é
“politicamente correcto” mas quando chega a “hora da verdade” e surge a oportunidade
de por em prática o que defendemos de um ponto de vista teórico e doutrinal…então
há sempre um “mas” ou um “se” e quedamo-nos pela beleza do discurso, pelo empolgante
das nossas convicções, pela magnificência vã das nossas posições.
Fazemos de nós próprios…mentirosos.
Abel José Varandas
2012.05.09