28 outubro 2012

INTERDEPENDÊNCIA




Notícia de Última Hora

Fontes próximas do Real Madrid anunciaram hoje que Cristiano Ronaldo comunicou a José Mourinho a sua indisponibilidade para continuar a treinar com a restante equipa. CR7 terá enviado uma missiva ao treinador do clube madrilista onde tece algumas considerações sobre o percurso da equipa principal de futebol e se manifesta indisponível para continuar a treinar junto com os seus colegas tendo alegado nomeadamente: “…não necessito dos meus colegas para ser o melhor jogador do mundo nem eles precisam de mim para continuarem a ser uma equipa. Eu já provei que sou, sem sombra de dúvida o melhor jogador do mundo e não preciso de treinar ou jogar com os meus colegas para continuar a ser o melhor. Para quem tenha dúvidas da minha qualidade posso sempre fazer uma exibição individual das minhas capacidades futebolísticas”.

Desnecessário será dizer que se trata, não só de uma notícia falsa como, a ser verdade, roçaria até o absurdo.
É impensável conceber um desporto colectivo como o futebol e aceitar a mera possibilidade de uma atitude semelhante à que, ficcionadamente, relatei.
No entanto, bastará pensarmos um pouco, para chegarmos facilmente à conclusão que uma atitude equivalente a esta é tantas vezes aquilo a que assistimos à nossa volta no contexto da nossa Igreja local. Quiçá, na nossa própria atitude.
Não raras vezes, (eventualmente a maior parte delas dentro da nossa própria cabeça) ouvimos expressões do tipo: “No meio de tanta gente quem vai dar pela minha falta” ou “ para quê a minha ajuda. Não falta gente para ajudar” ou, ao invés, se a questão for o papel da Igreja na nossa vida somos confrontados com pensamentos do tipo: “eu sei no que creio, estou seguro da minha fé, à minha volta e dentro da Igreja vejo tanta coisa a correr mal, tantas atitudes erradas que vou viver a minha fé fora dali. Não preciso dos outros para nada. Só preciso de Deus. E com Deus estou bem, portanto…”.
Nada de mais errado!
Na Bíblia encontramos variadíssimas vezes a imagem da Igreja como um corpo. E não um corpo qualquer. O próprio Corpo de Cristo, razão da nossa fé.
Um corpo, tal como uma equipa, são realidades plurais.

Eu não gosto particularmente do meu nariz. Para além da sua, digamos, superlativa dimensão, acresce que esteticamente é assimétrico em relação ao rosto. 
(E não quero sequer imaginar o que seria se fosse o meu nariz a não gostar de mim…) 
Perante este facto poderei ter uma de duas atitudes: ou faço uma cirurgia estética de reconfiguração e fico com um apêndice mais pequeno, porventura mais bem enquadrado no rosto mas não deixará de passar a ter uma natureza artificial ou, então, numa atitude mais sensata, aceito o meu nariz e o resto do meu corpo exactamente como são e prossigo a minha vida aceitando-me tal como sou, resultado do supremo design(io) do Criador.
Ainda não tinha 30 anos de idade, quando achei que eu era um “nariz direito” mas todo o corpo à minha volta estava torto. Tinha tido oportunidade de interiorizar e enraizar as bases e alicerces da minha fé, fruto do discipulado adquirido quer na Igreja Local, nos acampamentos e, ainda, no Grupo Bíblico Universitário (GBU) de que fora dirigente, e como estava bem seguro daquilo em que cria, não ia precisar de mais nada nem de mais ninguém. Resolvi, então, partir para uma experiência a que chamaria de Cristianismo Autónomo e Independente – CAI(!) sem desconfiar que estava apenas a encontrar uma designação atraente e pomposa para uma coisa que nada mais era afinal que a travessia de um deserto consubstanciado numa experiência pessoal penosa e traumática que o Senhor Jesus tão bem retratou na Parábola do Filho Pródigo.
Quero, todavia, deixar bem claro que, não fora a preparação adquirida na juventude em termos de discipulado activo, e o meu regresso poderia ter sido uma mera miragem ou, pelo menos, ser bem mais tardio, com as inevitáveis e dolorosas consequências daí decorrentes.
Haverá, certamente, quem diga que é uma pena não existirem comunidades perfeitas.
Mas como constituir uma comunidade perfeita quando aqueles que a integram são, inapelavelmente, imperfeitos?
Uma coisa é, porém, certa: só na comunhão efectiva e na união das diversas imperfeições se consegue construir uma comunidade plena, certamente não de atitudes perfeitas, mas de atitudes autênticas e de partilha e construção conjuntas. E só nessa comunhão se atingem objectivos vitoriosos. E neste propósito não há dispensáveis. Todos, sem qualquer excepção, estão convocados.

A discussão no mundo do futebol sobre se o melhor é Lionel Messi ou CR7 nunca foi e nunca será sobre qual deles é o jogador perfeito.
E nenhum deles teria conquistado o que já conquistou e seria o que já é hoje, e poderá ainda vir a ser e a conquistar, se tivessem decidido passar a vida a fazer exibições individuais de domínio de uma bola. Quer um quer outro, são considerados os melhores do mundo, porque fazem parte de equipas onde a sua contribuição é fundamental e onde também os seus colegas, não obstante poderem ter até um nível técnico ou competitivo ligeiramente inferior ao seu, são essenciais ao seu desempenho e ao seu crescimento pessoal como atletas e como indivíduos. Para já não falar de todas as outras áreas que assumem o suporte logístico das áreas principais e que, como tal, são igualmente importantes. Estes atletas são o que são, apenas e só, porque fazem parte de uma equipa que ajudam a construir e a tornar vencedora. Equipa, de onde emergem, unicamente, porque nela estão integrados. A medida do seu relevo é consequência lógica e directa da sua integração no colectivo. E sem esse colectivo, simplesmente, não existem.
A Igreja, quer na sua dimensão universal quer local, tal como o futebol, é um “jogo” (playground/espaço) colectivo! E todos fazemos parte do “plantel”! E todos temos que estar à disposição do “treinador”!
Como em qualquer estrutura colectiva, o conceito essencial e central é a interdependência.

Quero deixar-vos uma sugestão: A leitura atenta do capítulo 12 da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios na versão A BÍBLIA PARA TODOS onde, a dado passo, se pode ler:
a verdade é que Deus colocou todas as partes do corpo, cada uma no lugar que lhe pareceu melhor.” (18)
e
“o que parece mais fraco no corpo é, por vezes, o mais preciso. (22)



Abel José Varandas
2012.10.25



08 outubro 2012

Dia de saudade




38 anos após
Dilacerado na saudade
De uma partida sem aviso
Do abraço que me faz falta
Da tua presença serena
Sei que estás aqui
Bem perto, bem dentro
Presença que não acaba
Jamais.


AJV
2012.10.08

02 outubro 2012

A GREVE E OS SEUS EFEITOS



Durante os treze anos em que fui dirigente sindical, uma das questões que sempre foi e, provavelmente, sempre será redundante quando se parte para uma greve no sector público é o facto de invariavelmente a mesma poder vir a afectar os cidadãos em geral e, quando ocorre em sectores básicos como os transportes, é muito comum a vox populi ser de que este direito vem prejudicar, essencialmente, o dia-a-dia dos utentes e não o “patronato” que até, neste caso, assegura alguma poupança em massa salarial sem, no entanto, aceder, na maioria das vezes, ao fluxo reivindicativo.
Ora, quanto maior for o prejuízo causado à normalidade da prestação de um serviço público e quanto maior for o número de cidadãos ou interesses envolvidos nos seus resultados, mais eficaz é o efeito da greve. O que se pretende numa acção grevista é exactamente que seja impactante nos seus efeitos. Quanto maior o grau de inocuidade de uma greve, maior o seu fracasso. O mesmo é dizer que o sucesso do direito à greve não se mede apenas pelo número de adesões dos trabalhadores, em concreto, titulares  desse direito mas, e sobretudo, pelo impacto social da acção grevista.
Efectivamente, pela experiência que adquiri e historicamente comprovada, os “patrões” , não raras vezes, parecem ser os mais alheados do impactos das greves, para além de, na sua lógica, mesmo quando um determinado serviço pára por completo, não existirem greves com adesão total e, invariavelmente, os seus números se afastarem dos apurados pelo movimento sindical (onde também, por vezes, se exagera por excesso!) quase até ao absurdo.

Apesar de já há muito desconfiado, percebi recentemente a verdadeira causa de todas estas minhas “estranhezas” em relação à leitura feita pelos “patrões”, em cada caso concreto, aos efeitos do exercício deste direito constitucional.
Aquilo que sempre julguei ser a assunção de posições táctico-estratégicas do mundo laboral e que levava (e leva!) invariavelmente os “patrões” a desvalorizar os efeitos que os cidadãos sentiam (e sentem!) como prejuízo necessário e decorrente do exercício daquele direito, não passava afinal de… “ignorância”.
Obrigado, Borges.

Abel J. Varandas
2012.10.02

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