“E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o SENHOR te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam.” - Isaías 58:10,11
Há quem pense e afirme que a missão principal da Igreja de Cristo não é dar de comer a quem tem fome mas espalhar a boa-nova da salvação. E têem razão!
Defendem que ter a “barriga cheia” ou a “barriga vazia” é irrelevante para a salvação da alma. Independentemente de se ter muito ou ter pouco, o céu só se alcança pela aceitação individual e plena do sacrifício redentor do Senhor Jesus. E, igualmente, estão cobertos de razão!
Então, pergunta-se, para quê promover, no âmbito da missão da igreja local, um ministério de apoio aos sem-abrigo, aos “cansados e oprimidos” uma vez que a estes bastará ir a Jesus em busca de alívio (cfr. Mat. 11:28)?
Para quê perder tempo, esforço e dinheiro em alimentar o corpo dos famintos e não unir recursos e empenhos unicamente para lhes alimentar a alma?
Durante algum tempo também me interroguei com dúvidas de teor semelhante. E perguntava-me até porque é que Jesus que tinha a missão de dar a conhecer ao mundo o Plano Divino para a redenção da humanidade, perdeu tanto tempo e despendeu tanta energia a curar paralíticos, leprosos, endemoninhados, cegos, a ressuscitar mortos, a comer com pecadores e, até, imagine-se, a dar de comer a uma multidão faminta dando-se ao trabalho de multiplicar os alimentos perante a constatação da sua escassez (João 6:1-15). Não teria sido uma excelente oportunidade para fazer uma campanha evangelística com apelo final “Vinde a Mim!”?
Mas, então como explicar que Jesus se prendesse nestas "futilidades"? A sua missão não era, afinal, essa. Ele era, verdadeiramente o Pão da Vida (João 6:35) e porquê e para quê a necessidade de distribuir outro tipo de pão?
A resposta que tanto me fugia era demasiado óbvia e só exigia a minha abertura de pensamento e, sobretudo, de coração.
Ao ler o relato de Lucas 10:25-37 percebi, finalmente, que tal como aquele Intérprete da Lei eu queria perceber quem era o meu próximo e o que fazer com ele. E que a ordem de Jesus “Vai e procede tu de igual modo” era também para mim! Entendi e interiorizei, ainda, que naquele dia, quando o Senhor reunir as Suas ovelhas à Sua direita, quero estar entre os “benditos de meu Pai” (Mat. 25:34-37).
Barnabé (Atos 4:32-37) tinha plena consciência que a principal missão do crente é anunciar a Boa-Nova. Mas, tal como ele, os voluntários que, sob o patrocínio da Igreja Evangélica Baptista de Cedofeita, resolveram separar umas (poucas) horas do seu tempo para poder dar um abraço fraterno a alguns famintos que a nossa sociedade, ocidental e desenvolvida(?) criou e fomenta, crêem que é sua responsabilidade enquanto cristãos intervir activamente no status quo em demonstração de uma fé que se traduz em actos e não somente em meras palavras, que crêem que a fé sem obras é morta (Tiago 2:16,17) e que esta iniciativa é também a expressão de responder em obediência ao apelo de Cristo para sermos LUZ e SAL.
“Ide, fazei discípulos” (Mat. 28:19). Para além de uma bênção inigualável para os envolvidos, o cumprimento da Grande Comissão é, afinal, o leit-motiv e o objectivo último do “ABRAÇO DE BARNABÉ”.
Nem que para isso seja necessário servir, primeiro, uma sopa quente!
Abel Varandas
2010.11.25