Costumamos dizer que o Homem põe e Deus dispõe.
Se alguma virtude tem os ditados populares é a de surgirem de um saber de experiência feito. Dito de forma mais elaborada, é o conhecimento empírico que determina o fundamento dos provérbios.
Esta é uma verdade insofismável. Tanto quanto o Homem ter pretensão de “pôr” e, quer queira quer não queira, ter de se sujeitar à soberania divina.
No passado dia 4 de Fevereiro o meu computador pessoal deixou de funcionar. Quase "entrei em parafuso”. Foi um problema de software que me deixou preocupado quanto à recuperação de “Os meus documentos”. Fiquei mais descansado depois de o “clínico” fazer o diagnóstico e me garantir a recuperação dos ficheiros mais importantes. Fiquei dez dias em “cura de desintoxicação” que, maugrado a “trabalheira” (que ainda persiste…) de reconfigurar tudo novamente, teve aspectos altamente positivos.
Este episódio mostrou-me, sobretudo, quantas vezes apostamos no "cavalo errado". Colocamos a nossa confiança, depositamos a segurança das nossas expectativas em instrumentos que acabamos por endeusar e que, desta forma, se tornam os nossos estribos e, simultânea e consequentemente, os nossos ídolos.
Eis quando um crash surge e nos alerta para o perigo do nosso comportamento e para o quanto temos apetência e propensão para a idolatria. Hoje dificilmente criamos bezerros de ouro e nos prostramos a seus pés. Mas, tão facilmente nos entregamos à dependência de um computador, de um smartphone ou de outros meios, audiovisuais e não só.
Em nossa defesa alegamos que usamos esses meios para ler a Bíblia online, meditar online, conviver online, aprender online, etc. Rapidamente enredamo-nos nas redes sociais, passamos a respirar apenas online e a não ter tempo para mais nada e, pior, mais ninguém.
“Hoje é Domingo mas está tão mau tempo. Vou assistir ao culto online”.
De repente a nossa vida tornou-se uma teia de virtualidades. Ontem mesmo li que, actualmente, cerca de 30% dos divórcios são decorrentes do (ab)uso das redes sociais, nomeadamente do Facebook. Entre outras, esta rede revolucionou o nosso viver actual. Bastará pensar na iniciativa de mobilização da chamada “geração à rasca”. Já se diz, naturalmente com algum exagero, que quem não está no Facebook não existe. Eu também tenho página no Facebook (logo, existo...) e essa rede tem excelentes virtualidades como o agradável “reencontro” de amigos(as) com quem já não tinha qualquer contacto há décadas. Mas temos que ter consciência que esse é apenas mais um meio e não um fim em si mesmo. Temos que saber dizer “basta” no momento próprio. Não chega dizermos NÃO ao álcool, às drogas, às dependências habituais e reconhecidas. Precisamos apostar no "cavalo certo" e fazer renascer o gosto do convívio directo, do prazer da tertúlia, da conversa de café ou à mesa da refeição, da leitura de um bom livro, de um passeio a pé pela natureza, da iniciativa comunitária, do ouvir estórias ao aconchego da lareira ou ao colo da avó, do saber estar em sociedade.
Sob pena, de a breve trecho nos transformarmos em membros indefectíveis da nova classe dos idólatras cibernautas e não passarmos de estupidificados electrónicos ou não percebermos que a superioridade do ser humano reside no facto de enquanto ente com capacidade criadora, à imagem e semelhança do Supremo Criador, não se deixar dominar pela encantos enganosos da sua criação.
Como diz o meu filho, João Miguel, na sabedoria dos seus 17 anos, nada, mesmo nada, substitui o toque, o cheiro, o prazer da leitura e a singularidade do livro em papel.
Convém que, como cristãos, nos mantenhamos alerta e que a nossa dependência seja absoluta e exclusivamente depositada em Deus.
Não apostemos mais no "cavalo errado".
Deixemo-nos conduzir (e induzir) pela exortação de João, “O Discípulo Amado”, em 1 João 5:21: Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Ámen.
Abel Varandas