25 janeiro 2010

Uma vida com propósito



É raro que estejamos completamente
inocentes dos nossos sofrimentos.
- Jean Rostand (1894-1977)


A recente tragédia no Haiti trouxe, novamente, à ordem do (meu) dia a “velha” questão da dor e do sofrimento. As interrogações que nos causa e que, aparentemente, não tem sentido numa lógica que perfilha a certeza de um Deus de amor, que, por definição, é o próprio Amor, atento às necessidades das suas criaturas e compassivo e misericordioso para com os erros da humanidade.
Como entender, como aceitar os “escombros” que nos circundam de tantas crianças com fome, órfãs de carinho e reféns de um amanhã sem futuro?
Que Deus é este que permite calamidades humanas indescritíveis? PORQUÊ?

A tendência sobremaneira humana, manifestada desde as tenras idades, de querer encontrar os PORQUÊS para tudo leva-nos, quase em ritmo de inevitabilidade, a interrogarmo-nos neste perspectiva causal de querer saber o que funda ou fundamenta determinada ocorrência ou circunstância. Mas, puro engano ou noutra formulação “santa ignorância”…

O porquê, os porquês estão há tanto tempo entre nós.
Sempre estiveram!
E são sempre os mesmos. E tudo obra nossa.
Certamente que nunca, por nunca, perfilharia o delirium alucinógeno da pseudo-teoria da conspiração “hugo-chaviana” que levou à afirmação, no mínimo, torpe e ridícula da culpa ianque mas refiro-me, outrossim, à “mania” tão humana de culpar Deus de todos os males (raramente, em contraponto, é o responsável pelos bens…) quando nos esquecemos que uma Criação à Sua imagem e semelhança se tornou ABSOLUTAMENTE auto-suficiente e, sobretudo, auto-determinante. Que o pré-conhecimento implícito nas profecias não significa, de todo, providencial determinismo.

E é nesse contexto que chegamos à questão que, a meu ver, se deve colocar perante o sofrimento: PARA QUÊ?

É aí que encontramos um caminho substancialmente diferente.
É verdade que, na perspectiva dos seus atributos, Deus tem poder, é-lhe perfeitamente possível impedir as tragédias. Então, pergunta-se, PORQUE não o faz?
E a resposta surge, mesmo que penetrante, óbvia. Interferiria, então, na história contrariando a auto-determinação e o livre arbítrio que são a sua própria essência e transmitidos, impolutos, à Sua Criação. Estaria, desse modo a negar-se a si mesmo (cfr. 2 Timóteo 2:13).

Já quanto ao argumento teleológico, cremos que Deus prossegue um comportamento, por acção ou omissão, com um propósito bem definido.

No passado Domingo, dia 17, reflectindo neste tema durante o sermão, o Pastor Abel Pego chamava à colação a circunstância da morte do seu pai na envolvência trágica de um violento atropelamento inexplicável, e como esse facto tinha permitido o seu testemunho de fé ali mesmo no crepúsculo da sua vida terrena.

Longe estava eu de imaginar sequer a notícia que já no final desse mesmo dia iria receber. A Perpétua, esposa do Armindo, acabara de falecer na véspera, atropelada numa passadeira para peões. Fiel aluna na Escola Bíblica do Norte em Esmoriz e que nos habituámos a ver às Segundas-feiras como nossa colega ali. Esta notícia chocou-me particularmente. Porquê, Senhor? Pergunta errada. Para quê Senhor?

A resposta começou a ser dada ontem mesmo, na Igreja Evangélica de Leça da Palmeira, onde o casal partilhava a membrasia e onde tive o inigualável privilégio de ouvir o Armindo afirmar publicamente o seu pedido de oração pelo encontro pessoal, a ocorrer durante esta semana, com o responsável pelo acidente que vitimou a sua esposa e mãe dos seus (três) filhos.

Ali irá ter oportunidade de “retaliar” entregando-lhe o seu perdão selado com a oferta de uma Bíblia para que Deus possa operar a bendita obra de, falando ao coração daquele homem, o tornar em Irmão da Perpétua, seu Irmão e, como tal, igualmente nosso Irmão.

Para quê?
Para Tua Honra e Glória, Senhor!

AV

Nota de rodapé: O teu sofrimento, querida mãe, também não é gratuito. As melhoras!

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Jehovah Jireh

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