27 março 2014
26 março 2014
21 março 2014
20 março 2014
14 março 2014
COR
Quando nasci, era preto.
Quando cresci, era preto.
Quando pego sol, fico preto.
Quando sinto frio, continuo preto.
Quando estou assustado, também fico preto.
Quando estou doente, preto.
E, quando eu morrer continuarei preto !
E tu, cara branco.
Quando nasce, é rosa.
Quando cresce, é branco.
Quando pega sol, fica vermelho.
Quando sente frio, fica roxo.
Quando se assusta, fica amarelo.
Quando está doente, fica verde.
Quando morrer, ficará cinzento.
E vem me chamar de homem de cor ?
(Escrito por uma criança Angolana)
08 março 2014
04 março 2014
Carnaval
O país do PSD não precisa de
pessoas
O “país” de que fala Luís Montenegro não é o nosso
país. O “país” de que fala Luís Montenegro não é Portugal.
"A vida das pessoas não está
melhor, mas a vida do país está muito melhor." A frase, de Luís
Montenegro, o risonho líder parlamentar do PSD, merece entrada em qualquer
colectânea de citações políticas e mesmo nos manuais de história contemporânea.
Não pela profundidade do pensamento, como nos melhores casos, mas pela clareza
da ideia que expõe, que no caso vertente resulta de uma mistura de simplicidade
e de desfaçatez.
A primeira parte da tirada ("A vida
das pessoas não está melhor”) não levanta dúvidas a ninguém e merece a
concordância de todos. Há menos emprego que quando este Governo tomou posse, há
mais desemprego, há mais desempregados sem apoios sociais, há mais pobreza, há
mais sem-abrigo, há mais fome, há mais desespero, há mais jovens sem dinheiro para
estudar, há mais portugueses a emigrar por falta de perspectivas, há mais
jovens qualificados a emigrar, há mais medo, há menos liberdade, há menos
apoios sociais, há menos acesso à saúde, há menos formação, há menos escolas,
há menos serviços no interior, há maior conflitualidade, há menos confiança nas
pessoas e nas instituições, etc. A lista exaustiva é impossível de tão longa e,
por trás de cada estatística, escondem-se milhares de tragédias pessoais, de
histórias que não deviam existir num país desenvolvido no século XXI.
O que é de mais difícil compreensão é
aquele “a vida do país está muito melhor". É difícil porque é preciso um
enorme esforço conceptual para separar este “país” que está “muito melhor” das
“pessoas” que “não estão melhor”.
Que país é este de que fala Montenegro?
Que entidade é esta que está tão longe e tão separada das pessoas que é
possível que uma esteja muito melhor e as outras muito pior?
Existem muitas definições de estado
(suponho que é do estado que fala Montenegro) mas praticamente todas elas
consideram uma comunidade organizada politicamente, com um governo e um
território. Que país é então este que está bem quando as suas pessoas estão
mal? Que componente do país é que está melhor? Será que Montenegro fala do
território? Não parece ser. Referir-se-á Luís Montenegro ao Governo? Será o
Governo a parte do país que está “muito melhor”? É inegável que o executivo
ganhou um novo vigor e que conseguiu construir um discurso positivo em torno da
ideia de “fim do programa de ajustamento” que, por vácuo que seja, parece ter
convencido alguns incautos e paralisado ainda mais o PS. Mas mesmo Luís
Montenegro sabe que seria excessivo identificar Governo e país. Este país que
está “muito melhor” parece ser algo mais amplo que a comissão liquidatária a
que chamamos governo.
Mas então que país é este que está
“muito melhor” e que não são as pessoas?
É simples: o “país” de que fala Luís
Montenegro não é o nosso país. O “país” de que fala Luís Montenegro não é
Portugal. O “país” de que fala Luís Montenegro é, simplesmente, o capital.
O que Luís Montenegro quis dizer foi que
"A vida dos trabalhadores não está melhor, mas a vida do capital está
muito melhor". Basta substituir estas poucas palavras para tudo bater
certo. A vida dos dirigentes do PSD está muito melhor (basta ver como se
congratulavam todos no último congresso). A vida dos dirigentes do CDS está
muito melhor. A vida dos banqueiros está muito melhor. A vida dos grandes
empresários está muito melhor. A vida dos multimilionários está muito melhor. A
vida dos advogados que trabalham para o capital está muito melhor. A vida dos
empresários que baixam salários e despedem trabalhadores com o pretexto da
crise está muito melhor. A vida dos empresários sem escrúpulos está muito
melhor. A vida dos empresários que vivem à conta das PPP está muito melhor. A
vida dos corruptos que nunca são condenados está muito melhor. A vida dos que
têm as empresas registadas na Holanda e o dinheiro nas ilhas Caimão está muito
melhor. A vida dos empresários da saúde que vêem as suas clínicas aumentar a
facturação à custa da destruição do Serviço Nacional de Saúde está muito
melhor. A vida dos empresários da educação que vêem as suas escolas aumentar a
facturação à custa da destruição da escola pública e dos subsídios do estado
está muito melhor. E depois, à volta destes, há um segundo anel de empresários
de serviços de luxo, de serviços “diferenciados” e “exclusivos”, que servem os
primeiros, cuja vida está também muito melhor.
O que Luís Montenegro quis dizer foi que
"A vida do povo não está melhor, mas a vida da oligarquia que manda no
país está muito melhor". Foi por isso que se congratulou. Porque ele faz
parte dela. Que isso constitua uma traição às promessas do PSD, à
social-democracia que voltou a ter direito de menção no último congresso, ao
interesse nacional, ao povo que o elegeu é algo que não preocupa Montenegro ou
o PSD. Como diz com honestidade o multimilionário Warren Buffett, “há de facto
uma luta de classes e a minha classe está a ganhar”. A diferença é que Buffett
tem uma certa vergonha. E Montenegro não tem vergonha nenhuma.
04/03/2014
in "Público"
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