25 março 2015

Sobre um Poema


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto, 
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.

- Herberto Hélder (1930-2015)

09 março 2015

Dia Internacional da Mulher


Dizem que ontem foi o Dia Internacional da Mulher. Cada vez me convenço mais que as celebrações pretensamente universais de um dia em especial em relação a factos particulares ou grupos de pessoas específicos são uma exaltação e institucionalização da discriminação persistente. A Mulher, como a Criança, ou os Avós ou outro grupo qualquer celebram-se nas atitudes de paridade prática que passam a meu ver pela assunção da equidade natural que subjaz aquela paridade (prefiro este qualificativo ao de igualdade). É verdade que em termos práticos há muitas situações discriminatórias? Sem dúvida. Mas não me parece que se implemente a necessária paridade ou a igualdade equitativa através da celebração de dias especiais. Apenas quando tornarmos natural e vulgar a "especialidade" de todos os dias do ano!
Para mim hoje é também o Dia da Mulher.
Amanhã e sempre!


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Jehovah Jireh

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